sexta-feira, 9 de outubro de 2009

De pijama no Café de Flore




Ah, o Café de Flore... Perdoe-me, Tetê, mas eu vou ter que contar o que se passou naquela noite gelada do inverno parisiense... (rs) Após um dia exaustivo na Eurodisney, eu e minha filha fomos para o hotel onde estávamos hospedadas, na rue St. Benoit, ao lado (literalmente) do Café de Flore. Ela tomou um banho quente, colocou o pijama e fez um lanche reforçado ali no quarto mesmo. Dei uma aspirina, para ajudar a relaxar, e a coloquei na cama. “Agora você fica aí, quietinha, e tenta dormir. A mamãe vai ao Café de Flore tomar um vinho e volta logo.” Assim que ela adormeceu, tranquei a porta do quarto e saí.
Como o salão principal do Café de Flore estava um tanto barulhento naquela noite, sentei-me em uma mesinha na área externa, devidamente protegida do frio por amplas janelas de vidro, de onde podia observar o movimento tanto da Rue St. Benoit quanto da Boulevard Saint-Germain. Pedi uma taça de bordeaux, acendi um cigarro e fiquei ali, observando a neve que caía e “conversando” com os fantasmas de Sartre e Simone de Beauvoir. Uma hora e meia depois, quando já me preparava para sorver a terceira taça de vinho, ouço alguém batendo na janela de vidro. Olho para o lado, e quase não acredito no que vejo. Era ela, minha filha (então com 10 anos), de pijama, gorro e, naturalmente, tremendo de frio! Uma perfeita “homeless”... (rs)

Fiz sinal para que ela entrasse no café e viesse até minha mesa, sob o olhar estupefato do sisudo garçom e dos demais clientes. O que ela fez, aliás, sem nenhum constrangimento, com a naturalidade típica das crianças, a quem, aparentemente, tudo é perdoado – inclusive entrar de pijama no elegante Café de Flore. “Mamãe, eu sonhei com o trem fantasma do parque e acordei assustada”, disse-me ela, enquanto nos abraçávamos. “Está tudo bem, querida, mas nunca mais saia num frio desses sem casaco, OK? Você pode pegar um resfriado”. Ela se sentou ao meu lado e  pediu, em francês, um chocolate quente ao garçom. Logo depois eu pedi a conta e voltamos para o hotel., abraçadinhas Até hoje, passados quase cinco anos desse episódio, damos boas risadas ao lembrar do ocorrido!