domingo, 20 de setembro de 2009

Adeus, Lenin!



Sentada em um banco na Praça da Revolução, em Moscou, diante da estátua de Karl Marx – esculpida em 200 toneladas de granito, na base da qual está a famosa conclamação "Proletários de todo o mundo, uni-vos!” –, fiquei imaginando como o ideólogo do marxismo e Vladimir Lenin, principal líder da Revolução de 1917 (cujo corpo embalsamado jaz próximo dali, no mausoléu da Praça Vermelha), se sentiriam na Rússia de hoje.  E concluí que a suposta (e provável) reação dos dois iria muito além do sentimento de frustração. Marx e Lenin certamente ficariam surpresos com a voracidade surpreendente com que o capitalismo chegou à Rússia. Como, aliás, eu também fiquei.


Com exceção do Mausoléu de Lenin (foto abaixo, onde infelizmente eu não pude entrar, pois o local estava fechado à visitação pública, em razão dos trabalhos de conservação do corpo) e de estátuas e murais com a imagem do líder da Revolução nas estações de trem e metrô, além de nomes em logradouros públicos, pouca coisa hoje em Moscou e São Petersburgo nos remete à Revolução. É como se ela simplesmente não tivesse existido!




Por outro lado, os sinais do capitalismo estão por toda parte: nas modernas construções, na opulência das lojas de grife e nos carros de luxo – inclusive limousines – que circulam nas largas avenidas de Moscou e São Petersburgo. E, naturalmente, na proliferação de telefones celulares. A exemplo do Brasil, eles estão por toda parte. A diferença é que, na Rússia, eles funcionam até mesmo nos subterrâneos (e bota subterrâneo nisso!) do metrô. Em Moscou, principalmente, andei muito de metrô, inclusive na hora do 'rush', e me surpreendi com o grande números de russos (trabalhadores) falando ao celular dentro dos trens!

Difícil dizer se os russos estão hoje em uma situação melhor do que aquela em que se encontravam durante o regime comunista. É verdade que, em minhas caminhadas por Moscou e São Petersburgo, não encontrei pessoas em situação de miséria (não me lembro de ter visto 'moradores de rua', tão comuns em São Paulo, por exemplo), embora tenha cruzado com uma ou outra "babushka" mendingando nas proximidades das estações do metrô.  Mas, a julgar pelos ostensivos sinais de riqueza exibidos por uma minoria de milionários russos, algo me diz que o fantasma da desigualdade social – tão combatida pela Revolução de 1917 – pode voltar a assombrar a Rússia. Se é que já não assombra!


Na foto ao lado, a GUM (Gosudartsvenny Univarsalny Magazin, ou loja de departamentos do Estado), a imensa galeria que ocupa uma das laterais da Praça Vermelha, em Moscou, onde as prateleiras da era soviética foram substituídas por lojas como Dior e Prada, entre outras grifes mundiais famosas. Abaixo, outros exemplos do capitalismo emergente.







Ao lado, as obras do novo hotel “Rossyia” (não sei se o nome será mesmo esse). O antigo Hotel Rossyia, uma espécie de "caixote" com 2.876 quartos, 5 mil camas, 40 restaurantes e 1 quilômetro de corredores, foi construído em 1967 para acomodar os delegados do Partido Comunista que vinham para encontros no Kremlin, em frente. Foi demolido, como outros 'mastodontes' do centro de Moscou.


Droga nenhuma



“Dedalus é um jovem exemplar. Ele não fuma e não vai a parques de diversão e não flerta e não faz droga nenhuma ou absolutamente nada (...)”

James Joyce, in “O Retrato do Artista Quando Jovem