quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Proibições e exceções

Não vou questionar a pesquisa Datafolha sobre a famigerada lei antifumo.

Primeiro, porque pesquisa é pesquisa, e eu não tenho por que duvidar do resultado – embora, particularmente, tenha dúvidas sobre a isenção desse instituto em questões que dizem respeito ao tucano José Serra (o Datafolha pertence à Folha, que, como se sabe, é Serra da “primeira à última linha”).

Segundo, porque o fato de a maioria (inclusive os fumantes) dos dois mil e pouco entrevistados se declarar favorável à nova lei não a torna menos fascista.

Exemplos? Em seu artigo 5º, a lei estabelece, por exemplo, que “qualquer pessoa poderá relatar ao órgão de vigilância sanitária ou de defesa do consumidor da respectiva área de atuação fato que tenha presenciado em desacordo com o disposto nesta lei”.

Ora, à medida que incentiva expressamente a delação, a lei assegura aos potenciais delatores (especialmente os não fumantes xiitas) as prerrogativas necessárias para iniciar uma verdadeira perseguição aos fumantes.
Tem algo mais fascista do que isso? Infelizmente, tem.

Atentem para o artigo 6º da lei antifumo:
Artigo 6º - Esta lei não se aplica: (...) III - às vias públicas e aos espaços ao ar livre; IV - às residências

Vias públicas? Residências?

Por que, diabos, a referência explícita a vias públicas e residências nessa famigerada lei? Se o objetivo era simplesmente “coibir” o fumo nos ambientes fechados, públicos ou privados, precisava explicitar no texto da lei que a proibição não se aplica a vias públicas ou residências?

Será que passou pela cabeça desses fascistas a possibilidade, remota que seja, de me proibir de fumar nas ruas ou em minha própria casa? Se não passou, por que fazer constar a “exceção” no texto da lei? Bastava dizer onde não pode, e pronto. Era bem mais simples, concordam?

Desconfio que não fizeram isso (omitir a “exceção”) para tentar de disfarçar a natureza totalitária e fascista da lei – o que é inútil, diga-se de passagem.

Como diz o governo no site criado especialmente para divulgar a nova lei, ela (a nova lei) “restringe, mas não proíbe o ato de fumar. O cigarro continua autorizado dentro das residências, das vias públicas e em áreas ao ar livre”.

Continua autorizado, é? Até quando?

Renoir no Hermitage

Adoro Renoir. Entre todos os impressionistas, é o que mais me seduz. Amo o traço sensível, e ao mesmo tempo marcante, de Renoir. Mas amo, sobretudo, as cores de Renoir! Como não posso comprar um quadro desse grande pintor, me “contento” (ou melhor, me dou por feliz, uma vez que poucos têm esse privilégio) em apreciar sua obra nos museus que visito, no Brasil e no exterior. Ademais, sempre defendi que grandes obras de grandes artistas devem mesmo é ficar expostas em museus – e não escondidas em casas de colecionadores –, para que possam ser apreciadas por todos, ou quase todos, que gostam de arte.

Procuro compensar a sensação de “querer mais” (olhar, sentir, me emocionar...) ‘colecionando’ reproduções de obras de arte. Tenho várias em minha casa, espalhadas por todos os cômodos.

Em uma das paredes da sala, estão três reproduções de obras de Renoir. A maior delas, que ocupa lugar de destaque, é de “Jeunes filles au piano” – lindíssima, que não canso de apreciar. Até pouco tempo atrás, porém, não fazia idéia de onde poderia estar exposta a obra original.

Eis que, ao percorrer um dos intermináveis corredores do majestoso Hermitage Museum, em São Petersburgo, à procura das obras de Rubens, dou de cara com “Jeunes filles au piano”! Estava tão exausta, caminhando (e me deslumbrando) havia horas naquele imenso e magnífico museu, que demorou a cair a ficha. “Peraí, eu conheço esse quadro... ah, o 'meu Renoir'!” Fui uma das últimas pessoas a deixar o Hermitage naquele dia. E voltei, dois dias depois, para tentar ver o que não havia conseguido. E acho que ainda não vi tudo (o acervo é gigantesco e maravilhoso!). Eu voltarei, com certeza.