segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pelo direito de fumar


Sou fumante, e fumante inveterada. Há décadas. Se quisesse, abandonaria o cigarro. Mas não quero; pelo menos não por enquanto. Adoro fumar! O cigarro me proporciona um prazer imenso. Para mim, fumar é mais do que um mero vício; é opção!

Naturalmente, conheço os riscos associados ao cigarro – que, aliás, não são muito maiores que os riscos associados à má alimentação, ao estresse, ao trânsito, à poluição, à violência urbana... Tudo isso mata, tanto quanto o cigarro. Ou talvez até mais. Não disponho de estatísticas no momento (vou levantá-las), mas algo me leva a crer que, em São Paulo, onde vivo, o trânsito e a violência urbana matam mais do que o cigarro. E a poluição ambiental – seja na capital, seja no interior (que o digam os moradores das regiões onde se planta cana de açúcar) – pode provocar tantos problemas respiratórios como o cigarro. Prova disso é que os pronto-socorros da capital e do interior vivem abarrotados de crianças com problemas respiratórios (e note-se que nem todas têm pais fumantes ou sequer convivem com fumantes).

Voltando à questão inicial, não só conheço como assumo os riscos associados ao cigarro. Sou maior, vacinada e dona do meu próprio nariz. Mas sou uma pessoa consciente e, como tal, não quero impor meu cigarro (e a fumaça que ele produz) a ninguém. Respeito o direito de quem não fuma – desde que respeitem o meu direito de fumar. Tanto que achei fantástico, anos atrás, quando instituíram áreas de fumantes e não fumantes em bares e restaurantes. Pensei: “Pronto, agora vou poder fumar tranqüila sem incomodar (e ser incomodada por) ninguém”. Desde então, me acostumei a esperar (horas até) por uma mesa na sempre concorrida área de fumantes. Para poder comer, beber e fumar em paz. Nem sempre conseguia, é verdade. Invariavelmente me deparava com algum não fumante xiita na área de fumantes torcendo o nariz para a fumaça do meu cigarro (não fumante xiita é uma “espécie” tão estressada que não consegue – ou conseguia – esperar por uma mesa na área reservada a ele, e ia se sentar junto aos fumantes).

Mas tudo ia bem até essa versão paulista do “Grande Irmão” de George Orwell declarar guerra ao fumo (e ao fumante), com uma lei de natureza absolutamente totalitária, que invade a privacidade do cidadão, passa por cima de uma lei federal (que determina a separação de ambientes entre fumantes e não fumantes e autoriza a existência de fumódromos) e ainda estimula a delação!

Objeto da fúria sanitarista (higienista) e persecutória desse hipocondríaco com cara de doente (ou, como escreveu José Simão, numa tirada fantástica, com cara de quem fuma crack escondido no banheiro da rodoviária... rs) e de seus seguidores, o fumante tornou-se um pária. Hoje, só podemos fumar em casa ou na rua. A continuar assim, em breve não nos permitirão fumar mais nem nas ruas!

Hoje é o cigarro; amanhã, a carne de porco; e depois, quem sabe? Talvez a própria liberdade de expressão... Já vimos esse filme antes!

2 comentários:

  1. Susi, como admirador de tua inquietude intelectual dou-me ao direito de discordar de alguns pontos. Muitos hábitos socialmente aceitos em determinados contextos históricos e culturais, hoje são vistos como definitivamente inadequados como, por exemplo, o hábito principalmente chinês, de manter facilidades para as pessoas escarrarem em lugares públicos. Coibir estes hábitos não significa necessariamente que estejamos vivendo em estados ditatoriais. Ao contrário, como no caso do cigarro, pode indicar que a "maioria silenciosa" representada pelos não fumantes finalmente comece a conquistar seus direitos.Aliás uma das formas mais agressivas da prepotência da ditadura do cigarro ( e das multinacionais que a alimentavam)sempre foi a célebre baforada expelida na cara de um interlocutor.Pior do que isto só uma cuspida.
    P.R.Baptista

    ResponderExcluir
  2. Meu caro P.R.,
    se estivesses em São Paulo, verias que não se trata apenas de "coibir" um hábito. Outras grandes cidades do mundo proibiram o cigarro em lugares (literalmente) fechados, mas, com exceção dos EUA, não "perseguem" os fumantes como aqui. Sempre há um espaço para os fumantes (nos jardins, na varanda). Para se ter uma idéia, a lei paulista proíbe que se fume nos condomínios residenciais. Isso se aplica, por exemplo, ao salão de festas e à churrasqueira, que são uma extensão de minha casa. Ou seja, se reservo o salão ou a churrasqueira para uma festa particular (apenas para minha família, por exemplo), ainda assim sou impedida de fumar. Diga-me: essa lei é ditatorial ou não?

    ResponderExcluir